Sunday, October 7, 2007

O que viemos fazer aqui?


Para os que gostariam de entender o que vim fazer aqui em Berkeley, vou tentar explicar meu projeto em linguagem não-técnica. É assim: na parte do doutorado que fiz no Brasil eu estava estudando o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e a febre amarela urbana. Só que o que eu estudo é o “bebe” Aedes, a fase da vida entre a postura do ovo por parte da mamãe mosquita e a eclosão da larva, enfim, a embriogênese dessa espécie. A idéia geral é que entendendo melhor o ciclo de vida do bicho, podemos ter novas idéias de como controlar esse vetor. E o que eu estudo é um processo que ocorre na embriogênese do Aedes que faz com que ele se torne mais “resistente” as intempéries do ambiente, e que ele cresça e se multiplique bastante, tornando a dengue uma questão de saúde pública muito séria no Brasil e no mundo. E a embriogênese do mosquito é a fase da vida dele que é menos conhecida. O que é bom pra mim por um lado, porque qualquer coisa nova que for encontrada será substancial, mas por outro lado, quase não tem ninguém trabalhando com isso no mundo, o que me deixa meio sozinho, sem pares para conversar.

O que me trouxe a Berkeley. O grupo para o qual eu vim aqui vem a alguns anos estudando a embriogênese do mosquito Anopheles gambiae, que é o transmissor africano da malária, uma das doenças que mais mata no mundo, principalmente crianças africanas. Aos milhões. Todo ano. Vim pra cá porque era um chance de estar em um grupo que estaria também interessado nas mesmas questões que eu, e com o qual eu poderia adquirir técnicas e conhecimentos que não existem no Brasil. O trabalho deles e o meu se complementam, e o fenômeno de resistência do embrião que eu vinha observando no Aedes aegypti está presente também na embriogênese do Anopheles gambiae. E isso é muito interessante porque inicialmente imaginamos que o que eu observava em Aedes seria uma coisa própria da espécie, não se aplicando a outros mosquitos. Mas aí vimos que é o contrário, é uma coisa mais geral, e portanto importante para o sucesso do ciclo de vida de outros mosquitos (aonde, vale lembrar, esses mosquitos são transmissores de doenças, muitas vezes fatais).

A foto aí de cima é de um embrião de Aedes aegypti visto dorso-lateralmente, na fase da embriogênese conhecida como extensão da banda germinal. Essa foto não é muito informativa, mas acho ela esteticamente bem bacana!

E a Mari? Bom, a Mari veio originalmente como esposa. Mas como ela era a pessoa certa na hora certa no lugar certo, ela acabou indo trabalhar num super laboratório em um projeto de células tronco embrionárias humanas, num grupo muito bom com uma chefa fantástica. Ah, e ela foi contratada e está ganhando mais que eu. Agora é ela que sustenta a casa e dá as ordens! ; )

3 comments:

Louise said...

The heaven lives in the details!! :P de esposa a chefe da casa!! LOL
Tatuzin! Tu não escreves por eras, de repente lembras-te e pronto! Temos material para horas de leitura! Te amo e sinto saudades!!

mil bjocas

researcher said...

ah, agora eu entendi. gostei do graozinho de arroz. e cade meu hotel em berkeley!? ;) saudade, brou.

Unknown said...

Caraca! Que saudade de vcs!! Acho que estamos todos extremamente enrolados, né?
Eu finalmente consegui os resultados pra tese e estou enlouquecido escrevendo!
Fazia tempo que eu nao vinha aqui no seu blog e, que surpresa, descobri que a Lou tb tem um blog! Infelizmente nao vai dar pra ficar lendo muitos posts, mas vou tentar deixar pelo menos uns comentários de vez em quando!
Feliz Natal pra vcs dois e feliz ano novo!
Muitos Beijos!!
Estamos com saudades!